Languishing: Entenda o que é o sentimento de medo e desamparo causado pela pandemia

Lembrar como foi o primeiro mês da pandemia do novo coronavírus é uma viagem no tempo dolorosa por si só: estávamos cientes de que algo sério estava acontecendo, mas dificilmente imaginamos que fosse demorar tanto tempo até a doença começar a ser controlada. O fato é que as mudanças que fomos obrigados a fazer em nossas rotinas acabaram provocando uma sensação de apatia generalizada — o termo utilizado para se referir a esse fenômeno é languishing.

Ainda que as doenças mentais também tenham aflorado desde o começo da pandemia, o languishing não chega a ser considerado uma doença como a depressão e a ansiedade, para as quais existe tratamento medicamentoso e terapêutico.

Diferentemente dessas condições, o languishing é a manifestação dessa sensação de cansaço e letargia que tantas pessoas sentem, sem que isso as deixe inaptas para a realização das tarefas cotidianas, como trabalhar, estudar, ir ao mercado, fazer faxina e outras atividades comuns.

Limbo mental

O reflexo da pandemia em nosso psicológico já vem sendo amplamente estudado, e uma pesquisa feita pelo sociólogo Corey Keys em parceria com o psicólogo Adam Grant buscou avaliar o impacto no bem-estar individual em relação às medida sanitárias, como o distanciamento social e o lockdown, e todas as outras vivências relacionadas à pandemia (luto, desemprego, falta de políticas sociais e econômicas, excesso de informação, demora para o início da vacinação, divulgação de fake news, entre outros).

A conclusão revelou algo com que estamos familiarizados: as pessoas não estão deprimidas, na maioria dos casos, mas também não se sentem felizes há um bom tempo. É justamente esse “limbo” mental, com uma sensação forte de letargia, a principal característica do languishing, que podemos traduzir como “definhamento”.

Essa sensação de definhar vem sendo relatada por pessoas que não têm diagnóstico de depressão ou transtorno de ansiedade, mas se vêem sem objetivos, sem alegria nas tarefas do dia a dia e com uma sensação grande de vazio e estagnação.

E por que tudo isso?

A origem desse cansaço mental extremo tem relação com o fato de que, desde o início de 2020, nossos cérebros estão com o sinal de alerta ligado e, ao adotarmos medidas de proteção (uso de máscara, álcool em gel, lockdown e distanciamento social), o alerta foi desligado e substituído por uma “versão light”, que ainda nos deixa vigilantes, mas com uma forte sensação de apatia.

Os sintomas do languishing incluem falta de motivação, cansaço, dificuldade de concentração e baixo rendimento nas atividades relacionadas ao trabalho ou aos estudos. Parece familiar?

Ainda que esse “definhamento mental” não seja equivalente à depressão, a verdade é que as expectativas para a próxima década não são animadoras: Keys e Grant acreditam que a humanidade, de um modo geral, passará por uma grande crise de saúde mental, e que a depressão reprimida agora se manifestará ao longo dos próximos anos.

De acordo com os pesquisadores, é preciso que as pessoas aprendam a nomear os próprios sentimentos e que procurem maneiras para melhorar a qualidade de vida. É recomendado buscar ter um tempo para descanso e lazer, sem interrupções de mensagens do trabalho ou das notificações das redes sociais.

Pequenas mudanças

Alguns pequenos ajustes podem ser feitos para que haja uma melhora na qualidade de vida de modo geral. Entre eles, destacamos:

  • Tentar ter pelo menos oito horas de sono de qualidade;
  • Ter uma rotina de alimentação balanceada;
  • Manter proximidade (mesmo que virtual) com pessoas queridas;
  • Tomar bastante água;
  • Diminuir o consumo de álcool e cafeína;
  • Expor-se à luz solar durante alguns minutos, todos os dias;
  • Passar menos tempo nas redes sociais;
  • Consumir produtos culturais, como literatura, músicas, séries e filmes.
  • Praticar algum tipo de atividade física.

Se a situação ficar difícil demais ou até mesmo insustentável, é preciso buscar ajuda profissional. O acompanhamento médico e psicológico pode melhorar muito a qualidade de vida, inclusive durante a pandemia.

Não tenha vergonha ou medo de pedir ajuda e lembre-se: estamos todos afetados psicologicamente com a situação atual, mas a cada dia o controle da doença se aproxima e, em breve, poderemos diminuir as restrições sanitárias e voltar a uma rotina próxima a que tínhamos antes da pandemia.