Calculadoras científicas estão virando recurso didático valioso para revolucionar as aulas tradicionais de Matemática e Física

Ensinar matemática é um grande desafio. Além de não despertar tanto o interesse dos estudantes, o ensino da disciplina apresenta níveis preocupantes. Infelizmente, as avaliações nacionais e internacionais mostram que não formamos os nossos jovens no Brasil com habilidades matemáticas e científicas na escala que o país necessita. Apenas um em cada dez jovens brasileiros têm nível adequado em matemática, conforme números apresentados pelo PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os resultados do PISA feito em 2015 apontam que o país caiu da posição 58º para 63º lugar, ficando atrás de países como a Argentina, Costa Rica, Chile e Trinidad e Tobago.

Um problema sério

No Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) o quadro não se altera, o maior número de zeros no Enem 2016 foi em matemática, com 5.734 estudantes. Para efeito de comparação, o segundo maior número de zeros foi em linguagens, com 3.862, ou seja, 1.872 zeros a mais. Ainda de acordo com o relatório do PISA 2015, apenas 12 em cada 100 brasileiros demonstram a capacidade de executar procedimentos descritos com clareza, incluindo aqueles que exigem decisões sequenciais. Além disso, não conseguem aplicar estratégias simples de resoluções de problemas, hoje uma exigência altamente demandada por empresas. Por mais que um exame escrito não consiga mensurar o nível de aprendizado de um indivíduo, baixos índices em diversos exames podem ser indicativos da deficiência do nosso sistema de ensino na área da Matemática.

O baixo desempenho se deve muito ao que se espera de uma aula de matemática, ou seja, uma série de repetições e memorizações de fatos disjuntos e desconexos, sem qualquer significado. Assim, não é surpresa a falta de interesse dos estudantes pela disciplina, sendo que alguns sequer desenvolvem a capacidade de resolver problemas ou o pensamento lógico-matemático. Como consequência, há o cultivo de crenças e preconceitos. A sociedade acredita que a Matemática é apenas para pessoas mais talentosas.

A Matemática comporta um amplo campo de afinidades, regularidades e coerências que despertam a curiosidade de instigar a capacidade de analisar, generalizar, prever e abstrair, favorecendo a estruturação do pensamento e o desenvolvimento do raciocínio lógico. Ela faz parte da vida de todos nós, do matemático ao padeiro; nas experiências mais simples como o contar ao mais complexo como resolver equações diferenciais. Essas potencialidades de conhecimentos matemáticos devem ser exploradas de forma mais ampla.  

Além disso, ter domínio da matemática ajuda a entender outras disciplinas. Em História e Geografia, ajuda no entendimento de dados estatísticos apresentados em formas de gráficos e como esses dados ajudam na decisão de políticas públicas; em Biologia, ajuda a entender como se calcula o período de incubação de uma doença; ou ainda o pensamento lógico-matemático, que por sua vez, ajuda estudantes em Linguagens a escrever de forma mais clara e lógica. Mesmo na música, que possui ritmos musicais que detêm comportamentos de séries matemáticas. Até a Arte prospera em geometria, e os alunos que entendem fórmulas geométricas básicas podem criar peças de arte impressionantes.

Diante desses e de outros problemas e dificuldades que configuram o ensino-aprendizagem da Matemática, um programa de formação para o professor com o uso de tecnologias nas aulas de matemática figura ser a resposta. Em José Bonifácio, interior paulista, a CASIO Educação iniciou um projeto de formação de professores sobre o uso da calculadora científica como recurso didático nas aulas de Matemática e Física, com o apoio da diretoria de ensino de José Bonifácio, professoras da UFSCar, UNESP e a CASIO. Este projeto foi desenvolvido com importante colaboração das PCNP de Física, Ana Cláudia Martins, e as PCNP de Matemática, Maria Regina Lima e Clarice Pereira que implementaram em sala de aula o uso da calculadora científica em mais de 21 escolas. Mais de 800 alunos participaram do projeto e vemos que é possível mudar sobre o que pensamos de uma aula de Matemática e Física.

Como funciona o projeto da CASIO Educação?

Na primeira fase deste projeto, 94% dos alunos que tiveram aulas com calculadora científica acharam as aulas mais interessantes do que o ensino normal. Além disso, 86% dos alunos sentiram que a calculadora científica os ajudou a explorar conceitos e assim ter uma visão mais profunda sobre o tema.

As atividades foram desenhadas tendo em mente o currículo oficial, explorando a calculadora científica para fixação de conceitos e propriedades, verificação, investigação, entre outros. Nas formações do uso da calculadora científica como recurso didático, muitos professores são céticos sobre o seu uso de forma acima. Contudo, no momento que eles vivenciam as atividades, os mesmos percebem a diferença do que é proposto e veem todo o potencial da calculadora científica. Em um dos relatos, uma aluna percebeu o comportamento simétrico da função quadrática em relação a reta vertical que passa pelo seu vértice, analisando uma tabela de valores gerados pela calculadora científica. Em outras palavras, a estudante foi responsável por seu próprio aprendizagem.

Os novos estudantes nasceram rodeados por tecnologia. Essas ferramentas ampliam os horizontes do aprendizado, oferecendo novas e variadas possibilidades de conhecimento. Esse é um caminho que, juntamente com outras ferramentas disponíveis ao professor, nos levará a um salto na qualidade do ensino, especialmente da matemática.

Texto redigido por Jalman Lima, Mestre em Matemática pela Universidade Federal da Paraíba e especialista no uso da tecnologia na Educação Matemática. Já atuou como professor assistente na Université Catholique de Louvain, da Bélgica. É coordenador da divisão educativa da CASIO Brasil